sexta-feira, 11 de maio de 2012

Carta a meus amigos



“Amigo é coisa pra se guardar,
debaixo de sete chaves...”

Desde a época que eu era heterozinho (ou seja, não era assumido pra mim mesmo), que eu sempre usei uma frase pra definir todo o lance de namoros e amizades: Eu nunca vou terminar uma amizade por causa de mulher. Pois namoros vêm e vão – e amizades são pra sempre.

Pelo menos em teoria. E eu era jovem, acreditava na teoria... Até começar a ver amizades de anos ruírem como que por encanto. E exatamente pelo motivo acima – só que a causa foi homem, não mulher. Ou coisas mais fúteis ainda.

Por isso que estou escrevendo aos meus amigos hoje. Escrevo aos amigos antigos e aos novos; aos próximos e aos mais distantes; aos que dormiram em casa sábado e aos que me acolheram no reveillon de 2000; aos amigos de infância, de colégio, de faculdade, da rua, do prédio, de RPG, da internet...

Como vão vocês? Eu estou bem.

Andei refletindo muito esse lance todo de amizade nas últimas semanas. E umas das coisas que eu aprendi, a principal delas, aliás, foi algo que já vinha sido dito e comentado e discutido há algum tempo – mas que só agora eu percebi o quanto é verdade.

É muito difícil manter uma amizade com alguém cuja única afinidade com você é o fato de serem ambos gays. Entendem? É a velha questão das comunidades gays da internet: Aquele bando de gente entra num chat, ou numa sala de mIRC porque é gay – mas os gostos e atitudes perante a vida variam absurdo! E a homossexualidade, claro, não segura sozinha uma amizade entre pessoas tão diferentes, com pensamentos tão diferentes, conceitos e pre-conceitos tão diversos... E de repente você conhece melhor uma pessoa da net, pessoalmente até, e descobre que ele não curte as músicas que você gosta, que você odeia o jeito preconceituoso com que ele fala dos gays mais afeminados e que, na verdade, vocês não tem muito em comum.

Mas você já tá amigo do cara, vocês teclam há anos – e agora?

Não dá pra ir empurrando com a barriga não – uma hora essas coisas vão se acumulando e acabam vindo à tona da maneira mais desagradável possível. E não ache que você vai conseguir mudar o seu amigo, fazer ele enxergar o ‘lado certo’ das coisas – porque esse lado mesmo é relativo, né? E essas coisas, de personalidade, eu sinceramente nunca vi alguém mudar...

Mas essa carta não é pra ser uma carta down, não senhores!! Eu podia chegar agora e recomendar que todos vocês procurassem conhecer melhor os seus amigos e tentassem fazer amizade apenas com pessoas que seguem o seu pensamento, o seu estilo de vida – mas não. Na verdade, essa carta reflete uma parada que percebi ao observar o povo à minha volta: o quanto os E-jovens lutam pra ficar juntos, apesar de todas as dificuldades. Você vê roqueiros conversando com clubbers, manos e boyzinhos, teens e caras mais velhos, todos com nada em comum a não ser o fato de serem gays – e todos passando por cima dos mais diversos atritos, apenas para se manter como grupo, como amigos.

E isso é bonito demais. :)

Então essa é uma carta a todos os meus amigos – mas principalmente àqueles que acabaram ficando pelo caminho, por um motivo fútil ou outro. Pois eu considero todos que tocaram a minha vida, meus amigos. E eu terminaria o ano bem mais tranqüilo comigo mesmo se passássemos por cima desses atritos nós também.

Tudo bem, você pode estar putérrimo ainda, é um direito seu, e de repente a distância pode ter feito com que percebêssemos que não éramos tão dependentes assim um do outro – tipo, cada um foi tocar a sua vida e sobrevivemos, não foi?

Mas ainda assim, eu lembro da minha formatura da 8a. série, quando eu chorei ouvindo “Canção da América”, e de como o sentimento da Amizade criou raízes dentro de mim desde então. E eu não quero agora virar as costas a isso agora. Eu vou lutar pelos meus amigos, pelas minhas amizades - todas elas.

E, bem, é o que eu tinha a dizer.

Esteja com seus amigos sempre e abrace-os forte, como quem deixa bem claro que você não vai deixar que eles escapem facilmente.

Que não vai deixar que eles voem.

Pois, como disse Milton Nascimento:
Amigo é coisa pra se guardar, debaixo de sete chaves,
dentro do coração,
assim falava a canção,
que na América ouvi.

Mas quem cantava chorou,
ao ver seu amigo partir,
Mas quem ficou,
no pensamento voou,
com seu canto que o outro lembrou.
E quem voou,
no pensamento ficou,
com a lembrança que o outro cantou.

Amigo é coisa pra se guardar,
no lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância, digam não,
mesmo esquecendo a canção.

O que importa é ouvir,
a voz que vem do coração.
Pois seja o que vier,
venha o que vier,
qualquer dia, amigo,
eu volto a te encontrar.
Qualquer dia, amigo,
a gente vai se encontrar.

Seja o que vier,
venha o que vier,
Qualquer dia, amigo,
eu volto, a te encontrar,
Qualquer dia, amigo,
a gente vai se encontrar

fonte:   http://www.e-jovem.com/tema03.htm 



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